18 de novembro de 2010

Jogo da memória

Diante dele estavam alinhados incontáveis retângulos com a face voltada para baixo. Cada vez que os virava, era arrebatado por imagens, sons, cores, cheiros, e mesmo por diferentes sentimentos.

O que o deixava confuso, no entanto, é que certas vezes, ao virar alguns retângulos, outros se viravam sozinhos, como se estivessem ligados ao primeiro por razões que ele não compreendia.

E os mesmos retângulos, quando virados novamente, nem sempre apresentavam a mesma cena, nem o mesmo conjunto de elementos, nem evocavam as mesmas reações. Dependendo de sua disposição ao virá-los, ou do jeito que os virava, mudavam. Às vezes mudavam como por vontade própria, ou de acordo com outros retângulos.

Alguns se viravam sem que ele quisesse, os retângulos insistentes. E era sempre muito difícil, quase impossível, mantê-los virados para baixo. Havia dias em que consumia quase toda sua energia nisso. E não havia regra que os fizesse sumir quando encontrados aos pares.

Cansado daquilo, ele resolveu fugir, correr, largar aqueles estranhos e inconstantes retângulos. Mas estes o acompanhavam, aonde quer que fosse. Não havia jeito de livrar-se deles. 

2 comentários:

Lucas de Sá disse...

Também "to nessas".

Esses retângulos são teimosos, talvez a única forma de guardá-los seja trocando de pacote.

Um homem qualquer disse...

"retângulos" são figuras "não-geométricas" e ∞