29 de outubro de 2010

Simbonírica 3

Perfuratriz em cena. Broca rasga a entrada. Fiat lux. Dura estaca pulsa bate e busca extrair riqueza. Ninguém ouve a mulher que brada, quebrada. Jorra a aurora de Drummond.

Desabamento.

De suas duas luas verdes correm rios que cessam. Agulha perfura lábios, linha morta fecha frincha. Exploradores confinados à claridade.

Feminilidade soterrada. Mulher barbada, barbarizada.

Sobre a aurora de Drummond: http://bit.ly/aINLHf 

27 de outubro de 2010

Nanotecnologia

Germes robô
Ínfimo infinito
Túneis óticos
Pensamento
Pensalento

Nanonós
Não somos?

(29/05/06)

19 de outubro de 2010

Quintal

Quintal, crianças brincando
Quintal, varal, lençol branco
Quintal cachorro
Quintal gaiola

Quintal, formiga, cimento
Quintal gramado crescendo
Quintal quarto dos fundos
Quintal ali não

Quintal sobrenome
Quintal céu de estrelas
Quintal limites esparsos
Quintal sentimento impreciso

Casa sem quintal.

13 de outubro de 2010

Caralivro (Facebook)

Uma feita, certa moça,
tentando me ofender,
proferiu um dos melhores
elogios que já recebi.

Disse a guria:
Você é muito chato,
parece um livro!

6 de outubro de 2010

Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte III

Com a falência dos valores de outrora, que prezavam pelo valor do sofrimento e do sacrifício como aspectos de dignificação e salvação pessoal, ficamos livres do fardo de gerações anteriores. Privações, repressões e submissões que não mais se fazem necessárias para o convívio em sociedade. Entretanto, não raro perdemos também a noção do limite, e nos vemos na obrigação de obter prazer em cada ato, em cada relação e a cada momento. O imperativo do prazer nos condena e massacra a cada oportunidade perdida, a cada momento de enfado, a cada pequeno tédio, como se toda a repressão de gerações anteriores tivesse que ser compensada no prazer extremo e contínuo da nossa.

Falhamos em ser felizes, e falhamos duplamente em nos obrigar a ser felizes em vão. A felicidade é bem de consumo, representado pelos gadgets, por nossos entorpecentes e por nossos corpos, extensões do nosso desejo insaciável de permanecer insaciáveis.