2 de janeiro de 2015

Precisão

De tudo o que foi escrito,
Quase nada é necessário.
E o que é necessário
Foi escrito
De modo desnecessário.

25 de agosto de 2012

9 de novembro de 2011

Educação sentimental

Esfrego sua cara
No meu amor,
Como se esfrega
O focinho de um cão
Em suas fezes.

18 de outubro de 2011

Meu primeiro bolo

Dia desses resolvi fazer um bolo. Escolhi logo um com recheio e cobertura, nada muito simples. Disse à minha mãe que fizéssemos juntos, mas sabia que era o mesmo que pedir só para observar. Sabia também que ela jamais me permitiria fazer sozinho, pois não deixaria seu filho se aventurar naquele território, para mim inóspito, mas a ela tão familiar. Pedi então que apenas desse orientações, supervisionasse meu trabalho, sem que participasse ativamente da empreitada. Claro, vã tentativa, ela já pegara os ovos e começara a separar as claras das gemas. Como aprendera a fazer isso semanas antes, intervim:
— Sai daí, mãe! Deixa que eu faço. Você concordou em ficar só olhando e me dar dicas.
Surpreendentemente, foi assim até o bolo ir ao forno. Bati a massa, as claras, misturei o fermento. Despejei a massa na fôrma (untada pela minha mãe) e levei minha criação, uma massa fofa e gostosa de misturar, ao forno.

Havia combinado de visitar uma amiga. Faríamos uma pequena reunião, da qual participariam mais dois amigos da faculdade. Durante o tempo em que o bolo assou, fiquei pensando em como seria levá-lo a eles. Se ficaria bom, se seria elogiado, se valeria a pena ter escolhido logo esse dia para iniciar uma jornada sem volta ao mundo da confeitaria.
           Fantasiava com a possibilidade do deleite de meus queridos amigos, e essa cena tornava-se cada vez mais próxima e ganhava cada vez mais cores na minha imaginação. Agora já havia cenário e cada um tinha uma fala pronta  que seria interpretada de acordo com suas aptidões cênicas. Quase liguei para algum deles, com o intuito de adiantar a notícia do bolo e inculcar neles a expectativa que até aquele momento era só minha.
     Com pequeno esforço, detive-me e pensei no oposto, seguindo os instintos pessimistas que constantemente me acompanham. E se o bolo não desse certo? Certamente eu teria de inventar uma boa desculpa. Mas, se ninguém soubesse do meu fracasso, eu poderia ficar tranquilo. Minha mãe, que tomava banho, só saiu de cena depois de me orientar, dizendo que quando se espeta um palito de dente no bolo e ele sai limpo, é sinal de que o bolo está pronto.

         Resolvi espetar o tal palito. Fechei a porta da cozinha para não entrar vento, abri o forno, puxei a fôrma com um pano para proteger as mãos. Percebi que a massa estava mole, e ao devolver o bolo ao forno, sacudi delicadamente a fôrma e a massa sacudiu junto. Fui acometido por uma súbita sensação de fracasso. Embatucado, vagava pelos cômodos da casa. Ia à sala, à cozinha, ao banheiro, à cozinha, ao quarto, à cozinha. E a cena do deleite ia aos poucos se apagando, junto com toda a alegria que já não sabia para onde tinha ido.
“Pronto, nunca mais farei um bolo na minha vida. De onde foi que eu tirei essa ideia besta de fazer bolo? Ah, esquece, deixa para lá. Ainda bem que eu não avisei ninguém.” Não me restava nada senão esperar a opinião precisa, o diagnóstico profissional, o laudo médico atestando a hora e a causa do óbito — o parecer de minha mãe.
Para meu espanto, as informações técnicas contidas no laudo afirmavam que o óbito não ocorrera e que o paciente gozava de plena saúde. Isso mesmo, minha mãe disse que o bolo estava bom, que a massa estava bem assada, com uma consistência ótima e um cheiro delicioso. A enorme nuvem de frustração que pairava sobre minha cabeça esvaiu-se e trouxe de volta aquela alegria, junto com a cena quase apagada na imaginação. “Então o bolo deu certo! Ninguém poderá contemplar meu fracasso porque... não houve fracasso!”
Faltava fazer a cobertura. Com a dose de ânimo gerada pela boa notícia, bati os ingredientes da cobertura, enquanto aguardava que o bolo esfriasse. Como eu esperava, minha mãe o cortou pela metade e montou o recheio, pois isso é mesmo coisa para profissionais. Cobri o bolo e acrescentei algo mais: castanhas picadas, que foram compradas para uma receita que desistimos de fazer.
Levei a surpresa à pequena reunião de amigos. O deleite realmente ocorreu, e foi ampliado a todos que tiveram a oportunidade de provar o bolo. Minha irmã e minha cunhada pediram a receita. Fui requisitado para fazer aquele bolo no dia dos pais, no Natal e na festa que um amigo pretende fazer em sua nova casa, assim que se mudar. O bolo ganhou vida, tornou-se independente de seu criador e superou as expectativas modestas que havia construído para ele. Agora me dê licença, que meu segundo bolo está no forno.

Nota: O texto foi escrito em julho de 2005. Outros bolos sucederam o primeiro (até aprendi a cortá-los ao meio!), mas jamais houve tanta expectativa quanto da primeira vez.

23 de setembro de 2011

Vegetariano

Margarida, Rosa, Hortênsia.
Só comia carne
De flores.

20 de setembro de 2011

4 de agosto de 2011

Cuidado

Não ultrapasse a linha amarela
Risco de ferimento cardíaco grave