11 de junho de 2010

Tecnostalgia coisa nenhuma!

Gosto muito de filmes, músicas e livros antigos. E me interesso muito pela perspectiva histórica do desenvolvimento científico e da produção de tecnologia. Mas no cotidiano, o uso de aparelhos eletrônicos nos causa impressões diferentes a respeito do acelerado progresso tecnológico.

Às vezes, trata-se do avanço de uma tecnologia específica. Outras, do surgimento de uma nova tecnologia que substitui outra com a mesma finalidade. E uma tecnologia obsoleta, por não trazer vantagens em relação às novidades, perde seu valor de uso e cai no esquecimento. Tudo isso para dizer que antes dos 30 eu já usei coisas que em pouco tempo serão peças de museu. Bem-vindos ao século 21.

A razão dessa lista é que há certas velharias que me causam realmente algum tipo de nostalgia. Mas também há outras que não me evocam nostalgia alguma, e lembrar delas só me faz pensar como as bugigangas de hoje são legais.

Além dos videogames antigos, que jogava na infância, outras coisas como um modem(!) padrão ISA me fazem lembrar dos anos 1990 com um gosto não tão ruim na boca. A verdade é que em poucos anos tenho visto muita coisa mudar, e não deixo de ficar espantado com tudo isso.

Segue a lista de velharias de que não tenho saudade:

Radiorrelógio


Quando criança, acordava todas as manhãs com a Rádio Bandeirantes. Tomava café da manhã, cheio de sono e raiva do mundo, ouvindo o programa “O pulo do gato”. Claro que era assim porque meu pai mantinha seu rádio sempre nessa estação, e é assim até hoje. A vinheta e o apresentador continuam os mesmos, o que me oferece risco de experiência traumática em qualquer dia da semana. Ainda tenho arrepios quando ouço a vinheta do gato miando, e só de ouvir a voz do José Paulo de Andrade apresentando debate na Band, algo dispara em meu cérebro.

Afinal, nada como ser despertado com um narrador de rádio AM. Ou com uma música pop no meio do refrão. E por um aparelho de 15cm de largura que só tem essa função. Não, prefiro a música calma do meu celular. Pelo menos não fico com vontade de atirá-lo na parede.

Fita cassete, walkman

Walkman e MP4 player, lado a lado. Compare o tamanho de cada um.


Existe ainda hoje a nostalgia do vinil. DJs, colecionadores e entusiastas ainda preservam seus discos por diversas razões. Há aqueles que dizem que certas coisas só têm seu valor se escutadas no vinil, com aquele chiado característico.

Mas alguém já ouviu falar em nostalgia de fita cassete? Quem tem saudade da qualidade de som, ou da falta de praticidade de nunca achar o início das músicas? Tudo bem, esse problema foi resolvido com alguns equipamentos que identificavam silêncio entre músicas, já no final de sua vida útil. Mesmo assim, ainda era necessário aguardar rebobinar ou avançar a fita. Isso sem mencionar que a fita tem dois lados, e muitas vezes era necessário desperdiçar muito tempo de um lado da fita, quando não cabia uma música inteira, virar a fita, rebobiná-la e gravar a partir de seu início. Puta pé no saco.

Já fui office-boy. E carregava um walkman pelas ruas e ônibus de São Paulo. Um trambolho que usa fita cassete e funciona à pilha. E rebobinava a fita cassete com uma caneta Bic, técnica milenar para economizar pilhas, que não são baratas. Não dá pra ter saudade.

O discman já é um trambolho mais sofisticado, pois roda CDs. O que não é muito interessante é ter que carregar um estojo cheio de CDs. E vai tentar prender um desses na cintura...

Agora uso um aparelho absurdamente menor, com capacidade de armazenamento de muitas horas de música no próprio aparelho e qualidade superior de som, e que ainda reproduz vídeo. Até os celulares já reproduzem música melhor do que essas velharias.

Fita VHS, videocassete

Ainda lembro de como foi legal alugar Jurassic Park e Exterminador do Futuro 2 e assistir em VHS. (Eu era moleque, ué!) Além de ter sido iniciado na pornografia em VHS. Pause com riscos na tela, medo de rebobinar com imagem e mastigar a fita, e ter que rebobinar depois de assistir (o que rendeu o nome de um filme dirigido por Michel Gondry).

Qualidade inferior ao DVD, menor durabilidade, ausência de menus e conteúdos adicionais, impossibilidade de pular para cenas específicas. Ah, fita VHS, não sentirei sua falta. Principalmente de quando você resolvia enroscar no cabeçote. Nem preciso mencionar o videocassete, vale o mesmo.

Filmes agora em DVD, AVI, MKV e às vezes em bluray.

Conexão discada

Conectar com modem de 56Kbps, ter que escolher entre conectar à internet ou desocupar o telefone e esperar passar da meia-noite para não pagar pelo tempo da ligação. Tudo isso e mais aquele barulho irritante e aquela demora para verificar usuário e senha, a cada vez que se estabelecia uma conexão.

As conexões costumavam ser de míseros 45Kbps, e os downloads, a reais 5KBps. Hoje faço downloads cem vezes mais rápido e posso ficar nessa merda de internet o tempo todo, sem ocupar a linha telefônica (infelizmente).

Controle com fio
Distância limitada pelo fio e cuidado para não tropeçar, cair e levar o videogame para o chão. Desse ainda não dá pra escapar totalmente, já que no computador geralmente ainda se usa conexão USB.

Os videogames mais novos, entretanto, usam controles sem fio, que funcionam por ondas de rádio (nada de infravermelho, isso também já era).

Monitor CRT
CRT significa "cathode ray tube", ou tubo de raios catódicos.
Daí a expressão "monitor de tubo".

Outro da categoria “trambolho”. Essas bestas sugadoras de energia (seu consumo é bem maior que os LCDs) possuem resolução menor, tela em geral curva e atualização vertical, o que faz um bem danado para os olhos. Por suas dimensões e sua maior profundidade, ocupam muito mais espaço, desperdiçando área útil da mesa e aproximando ainda mais a tela dos olhos. Apesar de uma vantagem ou outra, como ângulo de visão e melhor definição com resoluções não nativas, pode-se considerar o CRT como obsoleto.

Eu detestava ler no computador, e tinha um monitor até que razoável, um Samsung CRT de 17 polegadas. Quando mudei para um Samsung LCD de 19 polegadas, senti a diferença absurda, e não apenas por ser uma tela maior. Cores mais vivas, fontes mais legíveis e, claro, uma área de trabalho “wide” (retangular) com muito mais espaço. Ler no computador passou a ser muito mais confortável. Se você está lendo esse texto num CRT, realmente recomendo que troque por um LCD quando possível.

Entretanto, não estendo esses comentários às televisões CRT. Ainda mantenho a minha, pois a maioria da programação ainda é transmitida em SD (shitty standard definition), e fica um tanto distorcida em TVs LCD.

Cabo IDE
Cabo IDE flat e seu substituto, o cabo Serial ATA.

Essa é para quem se aventura a fazer manutenção de computador e/ou remover e instalar HDs e outros dispositivos, mas principalmente para quem tem que organizar cabos dentro de um computador. Pela foto já dá pra ter uma ideia.

Cabo RCA A/V e vídeo-componente
Cabo de áudio e vídeo RCA (esq.) e cabo HDMI (dir.), 
que serve como áudio e vídeo num único conector.

Levar um aparelho de um lugar a outro da casa é um saco, e boa parte disso está relacionado a ligar esses cabinhos coloridos no aparelho em questão e na entrada da TV. Entradas frontais poupam o trabalho de se esgueirar atrás da estante, mas não são uma boa solução estética. E a diversão só aumenta no caso do vídeo-componente, que tem três cabos só para o vídeo, além dos dois do áudio. Por isso, afirmo: HDMI é fucking awesome coisinha linda de Deus.

Disquete de 3 ½”
Puta que pariu, nem preciso falar disso, né?

Celular monocromático
Com um visor que lembra um relógio digital incrementado, cores escrotas e toques monofônicos insuportáveis, não dá pra lembrar desses celulares com afeto. Cheguei a usar um celular com bateria de níquel, que tinha o famoso “efeito memória”, em que a bateria tem sua capacidade total diminuída se não for completamente esvaziada e completamente carregada. Totalmente inconveniente em comparação às atuais de lítio, que se pode carregar quando e o quanto quiser praticamente sem problemas.



Processador single core


Ainda lembro da minha reação na primeira vez em que vi um processador dual core desempenhando algumas tarefas em aplicativos diversos em ambiente Windows. Foi algo como: “Caráleo puta que pariu, que baguio rápido da porra, véi!”, ou algo quase tão espontâneo. E já há processadores com mais de dois núcleos.

Qualquer tarefa ou comando fica muito mais rápido, não há a sobrecarga de instruções como nos processadores antigos, em que tudo era trabalhado por um único núcleo. Numa analogia leiga, é como se o computador tivesse mais de um cérebro.

Nada de clicar para abrir um programa e levantar pra pegar um café enquanto espera. Nunca mais quero ver um processador single core na minha frente. Se você usa um processador single core, sinto muito, sua vida é uma merda.

Eu ainda poderia falar outras tranqueiras, como câmera fotográfica de filme e sem flash embutido, mas não cheguei realmente a usar uma dessas (embora meu pai tivesse uma, mas era ele quem usava). E também não poderia falar sobre carburação e injeção eletrônica, já que meu carro é de 1988, carburado (mas aprovado na inspeção veicular do município de São Paulo).

Creio que essa lista seja suficiente para ilustrar minha experiência com a rápida mudança dos tipos de bugigangas que nos rodeiam.

Para finalizar, vou ali assistir um bluray no meu Playstation 3 e meu monitor/TV LCD usando cabo HDMI, enquanto baixo MP3 por torrent a 500KBps no meu PC com processador dual core. Ou algo assim.

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