26 de novembro de 2010

Simbonírica 4

Côncavo, convexo, plano, cromo, bule, colher, dançam imagens. Narsísifo, seu reflexo na pedra. Avaro, orava. Era o mesmo do avesso. Vã busca pela essência na representação.

Na casa de espelhos, movimento. Alto, baixo, gordo, magro, disforme sem substantivo. De tantos reflexos possíveis, tornou-se possível não mais refletir. Era todos e um só, e não estava lá.

E você?

24 de novembro de 2010

Borgiana

Achei que a tivesse sonhado
Mas por um cochilo distraído
Fui eu quem surgiu
E ela já acordou

18 de novembro de 2010

Jogo da memória

Diante dele estavam alinhados incontáveis retângulos com a face voltada para baixo. Cada vez que os virava, era arrebatado por imagens, sons, cores, cheiros, e mesmo por diferentes sentimentos.

O que o deixava confuso, no entanto, é que certas vezes, ao virar alguns retângulos, outros se viravam sozinhos, como se estivessem ligados ao primeiro por razões que ele não compreendia.

E os mesmos retângulos, quando virados novamente, nem sempre apresentavam a mesma cena, nem o mesmo conjunto de elementos, nem evocavam as mesmas reações. Dependendo de sua disposição ao virá-los, ou do jeito que os virava, mudavam. Às vezes mudavam como por vontade própria, ou de acordo com outros retângulos.

Alguns se viravam sem que ele quisesse, os retângulos insistentes. E era sempre muito difícil, quase impossível, mantê-los virados para baixo. Havia dias em que consumia quase toda sua energia nisso. E não havia regra que os fizesse sumir quando encontrados aos pares.

Cansado daquilo, ele resolveu fugir, correr, largar aqueles estranhos e inconstantes retângulos. Mas estes o acompanhavam, aonde quer que fosse. Não havia jeito de livrar-se deles.