29 de dezembro de 2010

Profana dança

Jogar amor, as regras desconheço
Atuo sempre desorientado
Se tento é sempre intento fracassado
Desgarro, agarro, amarro e então pereço

Profano, danço até que hesito exausto
Espelho expresso rápido indeciso
Duvido olhar calado peito inciso
Afago, ofego e me redimo infausto

Em minha pele cada poro sua
Mentira que transpira, inspira e clama
Derrama sobre sua pele nua

A mesma farsa em dois subtraída
Sentida só depois que a fria chama
Apaga e chama à vida desmentida

21 de dezembro de 2010

Comunicador

No lúdico eletrônico, em letras coloridas,
Encontro musical, mas dissonante.
Harmônico talvez, quiçá embriagante,
Ainda que a ressaca se anuncie.

Súbito regozijo.

Mas ele se enfastiou
Com o júbilo ilusório
Que se anunciava.

10 de dezembro de 2010

Poeta musical

Palavra do poeta musical
O músico, poeta almeja ser
Nos versos sempre oculta o bestial
Sublime melodia há de tecer

Contradição eterna, pois humana
Em jogo de esconder, que é tão banal
Nos versos a pureza sempre emana
E encobre desta forma todo o mal

Artista sofredor que nunca nota
Que a música, impossível, sempre veta
O sentimento expresso em cada nota

Angústia do poeta em doce tom
Um homem animal, feito poeta
Um animal humano feito som

(24/01/06)

26 de novembro de 2010

Simbonírica 4

Côncavo, convexo, plano, cromo, bule, colher, dançam imagens. Narsísifo, seu reflexo na pedra. Avaro, orava. Era o mesmo do avesso. Vã busca pela essência na representação.

Na casa de espelhos, movimento. Alto, baixo, gordo, magro, disforme sem substantivo. De tantos reflexos possíveis, tornou-se possível não mais refletir. Era todos e um só, e não estava lá.

E você?

24 de novembro de 2010

Borgiana

Achei que a tivesse sonhado
Mas por um cochilo distraído
Fui eu quem surgiu
E ela já acordou

18 de novembro de 2010

Jogo da memória

Diante dele estavam alinhados incontáveis retângulos com a face voltada para baixo. Cada vez que os virava, era arrebatado por imagens, sons, cores, cheiros, e mesmo por diferentes sentimentos.

O que o deixava confuso, no entanto, é que certas vezes, ao virar alguns retângulos, outros se viravam sozinhos, como se estivessem ligados ao primeiro por razões que ele não compreendia.

E os mesmos retângulos, quando virados novamente, nem sempre apresentavam a mesma cena, nem o mesmo conjunto de elementos, nem evocavam as mesmas reações. Dependendo de sua disposição ao virá-los, ou do jeito que os virava, mudavam. Às vezes mudavam como por vontade própria, ou de acordo com outros retângulos.

Alguns se viravam sem que ele quisesse, os retângulos insistentes. E era sempre muito difícil, quase impossível, mantê-los virados para baixo. Havia dias em que consumia quase toda sua energia nisso. E não havia regra que os fizesse sumir quando encontrados aos pares.

Cansado daquilo, ele resolveu fugir, correr, largar aqueles estranhos e inconstantes retângulos. Mas estes o acompanhavam, aonde quer que fosse. Não havia jeito de livrar-se deles. 

29 de outubro de 2010

Simbonírica 3

Perfuratriz em cena. Broca rasga a entrada. Fiat lux. Dura estaca pulsa bate e busca extrair riqueza. Ninguém ouve a mulher que brada, quebrada. Jorra a aurora de Drummond.

Desabamento.

De suas duas luas verdes correm rios que cessam. Agulha perfura lábios, linha morta fecha frincha. Exploradores confinados à claridade.

Feminilidade soterrada. Mulher barbada, barbarizada.

Sobre a aurora de Drummond: http://bit.ly/aINLHf 

27 de outubro de 2010

Nanotecnologia

Germes robô
Ínfimo infinito
Túneis óticos
Pensamento
Pensalento

Nanonós
Não somos?

(29/05/06)

19 de outubro de 2010

Quintal

Quintal, crianças brincando
Quintal, varal, lençol branco
Quintal cachorro
Quintal gaiola

Quintal, formiga, cimento
Quintal gramado crescendo
Quintal quarto dos fundos
Quintal ali não

Quintal sobrenome
Quintal céu de estrelas
Quintal limites esparsos
Quintal sentimento impreciso

Casa sem quintal.

13 de outubro de 2010

Caralivro (Facebook)

Uma feita, certa moça,
tentando me ofender,
proferiu um dos melhores
elogios que já recebi.

Disse a guria:
Você é muito chato,
parece um livro!

6 de outubro de 2010

Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte III

Com a falência dos valores de outrora, que prezavam pelo valor do sofrimento e do sacrifício como aspectos de dignificação e salvação pessoal, ficamos livres do fardo de gerações anteriores. Privações, repressões e submissões que não mais se fazem necessárias para o convívio em sociedade. Entretanto, não raro perdemos também a noção do limite, e nos vemos na obrigação de obter prazer em cada ato, em cada relação e a cada momento. O imperativo do prazer nos condena e massacra a cada oportunidade perdida, a cada momento de enfado, a cada pequeno tédio, como se toda a repressão de gerações anteriores tivesse que ser compensada no prazer extremo e contínuo da nossa.

Falhamos em ser felizes, e falhamos duplamente em nos obrigar a ser felizes em vão. A felicidade é bem de consumo, representado pelos gadgets, por nossos entorpecentes e por nossos corpos, extensões do nosso desejo insaciável de permanecer insaciáveis.

28 de setembro de 2010

Lágrimas que não são infelizes

Perdeste teu poeta no passado,
Momento esvaecido numa brisa.
Seu rosto tua mão já não alisa,
Num verbo em particípio conjugado.

Se nunca é sina, sempre breve história,
Se na memória é mártir, porém vive,
É quando a hesitação em ti incide,
Que se faz mestre o tolo de outrora.

Será que tu percebes a ironia?
Se foste do poeta a escolhida,
Por que não abraçaste a alegria?

Mas não é nada disso o que lhe dizes.
As lágrimas que choram a partida
Não são, por derramadas, infelizes.

(07/03/2007)

27 de agosto de 2010

Simbonírica 2

Claustrofobia, num cilindro escuro. Propulsão. O capacete se choca contra o céu da boca de um suicida. Rasga a têmpora de um descuidado. Adentra a noite apertada.

No ápice do arco, a ascensão é alterada. Aliteração. Cada canalha em cadeira cativa o vê cair em câmera lenta. Catástrofe.

Em vultos, vê surgir a rede quadriculada que o ampara. Impacto. O mundo balança e para. Ninguém o espera. Está perdido. A vida passa rápido demais.

Quem chupa o homem-bala?

19 de agosto de 2010

Simbonírica 1

Andava em desespero pela Av. Doutor Arnaldo. Quase corria. Fugia, mas não sabia de quem ou para onde. Era noite. Entrou na Cardeal Arcoverde e se enfiou num boteco. Pediu para usar o banheiro, mas de sua boca só saía uma espécie de murmúrio abafado. Foi ao espelho. Seu rosto era uma alva máscara com dois furos no lugar dos olhos.

Saiu para a rua e o meio-fio era corda-bamba. Não havia pavimento. Era dia. Caminhou pela frouxa linha do horizonte. Um revólver surgira entre sua mão e sua têmpora direita. O tambor não rufava, nem havia ali lugar para o vazio. Chorava. Lágrimas rubras lhe escorriam em volta da boca e na ponta do nariz.

Um homem apontou para ele: “O senhor, meu amigo, é um palhaço. Essa linha não vai nem chega. Um movimento em falso e o senhor cai. Um deslize e o senhor estoura seus miolos. Boa tarde.”

Era tarde.

15 de julho de 2010

Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte II

O homem do século 21 oscila entre o ridículo da crença e a insuficiência da razão.

Ao negar a racionalidade e afirmar a crença, perde lugar no universo de abstrações sobre o qual são edificadas a moral e os valores de uma época. Incapaz de questionar a produção de tais abstrações pelo engessamento confortável de suas crenças, acomoda-se em sua posição e a defende contra tudo e todos, agarrado ao escudo que o protege do imprevisível.

Por outro lado, destituído da crença e decidido a seguir a razão, é solapado pela total ruptura com valores de épocas anteriores, que atribuíam sentido e ordenamento à vida, e que lhe davam a segurança ontológica necessária.

Sem religião, toma dois possíveis caminhos: ou atribui à ciência um caráter dogmático, substituindo a religião, ou persiste em sua empreitada de questionar a realidade. As consequências da primeira opção são a subordinação às afirmações “comprovadas cientificamente” (desconsiderando todo seu processo de produção e sua veiculação nos meios de comunicação) e a restauração da segurança ontológica sobre o alicerce da mãe-ciência. A segunda opção, entretanto, pode levar ao desespero e mesmo à imobilidade pela total ausência de sentido.

Na impossibilidade de aceitar explicações metafísicas como fundamento da realidade, alguns acabam por entender que vivemos num mundo em que quase tudo o que nos rodeia é produzido por nós, e contém em si mesmo – embora sempre ocultada – toda a história das civilizações humanas e seu processo de produção material. E é da não ruptura que surge o choque das contradições que nos constituem. Velho e novo, pulsional e racional, cristão e ateu, convivem em nós de forma habitual, mas não sem consequências. Ateus conhecem na boca do estômago a culpa cristã, racionalistas agem irracionalmente pela falha no domínio de seus impulsos, e nossos projetos variam entre novas formas de sociabilidade e velhas formas de manutenção de valores tradicionais.

A saída – se é que há alguma – seria, pela compreensão da imanência da vida humana, crer no próprio humano. Olhamos para nós e vemos o pior: irascibilidade, belicismo, rancor, medo, angústia, e uma aterradora capacidade para destruir. Tudo isso, mas também todos os seus opostos. A razão, como um dos itens nessa longa lista, é totalmente incapaz de subjugar as outras características e submetê-las ao seu controle. E suponho que nem haveríamos de querer assim. A previsibilidade de tudo o que diz respeito ao humano possivelmente nos desumanizaria.

Mas se for – e não afirmo que seja – essa a saída, como crer em algo tão contraditório como o próprio humano? Algo que parece nos espreitar e esperar pela próxima oportunidade para nos apunhalar cruelmente pelas costas, traindo aquilo mesmo que tínhamos em mais alta conta?

A contradição está posta: crer sem crença.

6 de julho de 2010

Homem bonito

            Ana e Eduardo, Simone e Carlos estavam num barzinho, bebendo e conversando. Depois de algumas cervejas e assuntos diversos, começaram a falar sobre um bar GLS, onde foram na semana anterior. No meio da conversa, Simone exclamou:
— Nunca vi tanto homem bonito no mesmo lugar! Pena que gostam da mesma coisa que eu.
Enquanto Eduardo deteve-se em comentar a segunda frase, Simone continuava segurando a mão de Carlos.
— Nossa... Tinha cada um lá... Meu Deus! Mas tudo bem, homem bonito não é pra namorar mesmo.
Carlos esboçou alguma reação, apertando de leve a mão de Simone, mas ainda sem contrair qualquer músculo do rosto. Ana concordou:
— É mesmo, né? E aquele professor de educação física, o Roberto?
— Nossa... Aquilo que é homem! — disse Simone. — O Roberto é tudo que uma mulher pode querer.
Eduardo olhou para Carlos, que continuava impassível. Carlos levou o copo de cerveja à boca, olhando fixamente para Simone, quase sem piscar. Ela seguiu em suas considerações:
— Mas ele também é muito pra mim. Você sabe, né, amiga? Um homem desses não dá pra namorar, todo mundo quer. Prefiro...
Dessa vez, Carlos se virou para Eduardo e perguntou alguma coisa sobre o trabalho, antes que pudesse ouvir o final da frase, talvez por achar que não suportaria o que quer que viesse depois. Eduardo não assimilou a pergunta e comentou:
— Se ela tá falando que homem bonito não é pra namorar, ela quer dizer que...
— O preço da gasolina aumentou de novo, você viu que coisa? — Carlos começou a achar que já dominara o timing da interrupção. — Onde é que a gente vai parar?
Eduardo percebeu a iminência da precipitação que antecede a tempestade. Respondeu com um simples “pois é” e pediu mais uma cerveja ao garçom. Simone continuou segurando a mão de Carlos, sem perceber qualquer incômodo causado por suas palavras. Pelo contrário, ficava cada vez mais eufórica na descrição de Roberto:
— Lindo, louro, alto, olhos azuis, um corpo maravilhoso. Fica ótimo em qualquer roupa...
— Também... com um corpo daqueles — anuiu Ana.
— E que corpo! Mas eu não quero saber de homem assim, bonito, forte... Imagine eu com um homem desses. Quer dizer, só imagine, porque só dá pra imaginar mesmo. Ai, aquela voz no pé do ouvido...
Carlos soltou a mão de Simone bruscamente. Dessa vez, foi Eduardo quem tentou desviar a atenção de Carlos.
— Você não acha um absurdo como tratam as vacas na Índia?
— Hã? Vacas? Por falar em vacas...
Carlos chegou ao limite de sua paciência e voltou-se para Simone:
— Pô, Simone! Esse cara só tem qualidades? Duvido que seja tão perfeito assim.
Ana, notando que as mãos de Carlos seguravam o copo com força quase suficiente para quebrá-lo, decidiu amenizar a situação.
— Peraí, Carlinhos, ele não é perfeito, não. O Roberto é um cara vazio, sem conteúdo. A gente fala assim porque ele é um gostoso mesmo, mas um cara desses não acrescenta nada. Não é, Simone?
— Talvez não, né? Mas... Vai saber...

(08/08/05)

12 de junho de 2010

Soneto do 12 de junho

Difícil não ceder ao teu encanto
Não falo da embalagem tão somente
Mas muito além do jeito assim contente
Que negas que é de ti pra meu espanto

Mulher madura, jeito de menina
Menina moça, jeito de mulher
Oculta teu desejo e me alucina
E faz com meu desejo o que quiser

Perante teu olhar, que é tão profundo
Perco-me e penso estar já naufragado
Meu pobre coração, que é vagabundo

Quer ser pelo teu peito acalantado
E no teu ser o meu olhar fecundo
Despe-te, como quem dá-se ao pecado

(12/06/05)

11 de junho de 2010

Tecnostalgia coisa nenhuma!

Gosto muito de filmes, músicas e livros antigos. E me interesso muito pela perspectiva histórica do desenvolvimento científico e da produção de tecnologia. Mas no cotidiano, o uso de aparelhos eletrônicos nos causa impressões diferentes a respeito do acelerado progresso tecnológico.

Às vezes, trata-se do avanço de uma tecnologia específica. Outras, do surgimento de uma nova tecnologia que substitui outra com a mesma finalidade. E uma tecnologia obsoleta, por não trazer vantagens em relação às novidades, perde seu valor de uso e cai no esquecimento. Tudo isso para dizer que antes dos 30 eu já usei coisas que em pouco tempo serão peças de museu. Bem-vindos ao século 21.

A razão dessa lista é que há certas velharias que me causam realmente algum tipo de nostalgia. Mas também há outras que não me evocam nostalgia alguma, e lembrar delas só me faz pensar como as bugigangas de hoje são legais.

Além dos videogames antigos, que jogava na infância, outras coisas como um modem(!) padrão ISA me fazem lembrar dos anos 1990 com um gosto não tão ruim na boca. A verdade é que em poucos anos tenho visto muita coisa mudar, e não deixo de ficar espantado com tudo isso.

Segue a lista de velharias de que não tenho saudade:

Radiorrelógio


Quando criança, acordava todas as manhãs com a Rádio Bandeirantes. Tomava café da manhã, cheio de sono e raiva do mundo, ouvindo o programa “O pulo do gato”. Claro que era assim porque meu pai mantinha seu rádio sempre nessa estação, e é assim até hoje. A vinheta e o apresentador continuam os mesmos, o que me oferece risco de experiência traumática em qualquer dia da semana. Ainda tenho arrepios quando ouço a vinheta do gato miando, e só de ouvir a voz do José Paulo de Andrade apresentando debate na Band, algo dispara em meu cérebro.

Afinal, nada como ser despertado com um narrador de rádio AM. Ou com uma música pop no meio do refrão. E por um aparelho de 15cm de largura que só tem essa função. Não, prefiro a música calma do meu celular. Pelo menos não fico com vontade de atirá-lo na parede.

Fita cassete, walkman

Walkman e MP4 player, lado a lado. Compare o tamanho de cada um.


Existe ainda hoje a nostalgia do vinil. DJs, colecionadores e entusiastas ainda preservam seus discos por diversas razões. Há aqueles que dizem que certas coisas só têm seu valor se escutadas no vinil, com aquele chiado característico.

Mas alguém já ouviu falar em nostalgia de fita cassete? Quem tem saudade da qualidade de som, ou da falta de praticidade de nunca achar o início das músicas? Tudo bem, esse problema foi resolvido com alguns equipamentos que identificavam silêncio entre músicas, já no final de sua vida útil. Mesmo assim, ainda era necessário aguardar rebobinar ou avançar a fita. Isso sem mencionar que a fita tem dois lados, e muitas vezes era necessário desperdiçar muito tempo de um lado da fita, quando não cabia uma música inteira, virar a fita, rebobiná-la e gravar a partir de seu início. Puta pé no saco.

Já fui office-boy. E carregava um walkman pelas ruas e ônibus de São Paulo. Um trambolho que usa fita cassete e funciona à pilha. E rebobinava a fita cassete com uma caneta Bic, técnica milenar para economizar pilhas, que não são baratas. Não dá pra ter saudade.

O discman já é um trambolho mais sofisticado, pois roda CDs. O que não é muito interessante é ter que carregar um estojo cheio de CDs. E vai tentar prender um desses na cintura...

Agora uso um aparelho absurdamente menor, com capacidade de armazenamento de muitas horas de música no próprio aparelho e qualidade superior de som, e que ainda reproduz vídeo. Até os celulares já reproduzem música melhor do que essas velharias.

Fita VHS, videocassete

Ainda lembro de como foi legal alugar Jurassic Park e Exterminador do Futuro 2 e assistir em VHS. (Eu era moleque, ué!) Além de ter sido iniciado na pornografia em VHS. Pause com riscos na tela, medo de rebobinar com imagem e mastigar a fita, e ter que rebobinar depois de assistir (o que rendeu o nome de um filme dirigido por Michel Gondry).

Qualidade inferior ao DVD, menor durabilidade, ausência de menus e conteúdos adicionais, impossibilidade de pular para cenas específicas. Ah, fita VHS, não sentirei sua falta. Principalmente de quando você resolvia enroscar no cabeçote. Nem preciso mencionar o videocassete, vale o mesmo.

Filmes agora em DVD, AVI, MKV e às vezes em bluray.

Conexão discada

Conectar com modem de 56Kbps, ter que escolher entre conectar à internet ou desocupar o telefone e esperar passar da meia-noite para não pagar pelo tempo da ligação. Tudo isso e mais aquele barulho irritante e aquela demora para verificar usuário e senha, a cada vez que se estabelecia uma conexão.

As conexões costumavam ser de míseros 45Kbps, e os downloads, a reais 5KBps. Hoje faço downloads cem vezes mais rápido e posso ficar nessa merda de internet o tempo todo, sem ocupar a linha telefônica (infelizmente).

Controle com fio
Distância limitada pelo fio e cuidado para não tropeçar, cair e levar o videogame para o chão. Desse ainda não dá pra escapar totalmente, já que no computador geralmente ainda se usa conexão USB.

Os videogames mais novos, entretanto, usam controles sem fio, que funcionam por ondas de rádio (nada de infravermelho, isso também já era).

Monitor CRT
CRT significa "cathode ray tube", ou tubo de raios catódicos.
Daí a expressão "monitor de tubo".

Outro da categoria “trambolho”. Essas bestas sugadoras de energia (seu consumo é bem maior que os LCDs) possuem resolução menor, tela em geral curva e atualização vertical, o que faz um bem danado para os olhos. Por suas dimensões e sua maior profundidade, ocupam muito mais espaço, desperdiçando área útil da mesa e aproximando ainda mais a tela dos olhos. Apesar de uma vantagem ou outra, como ângulo de visão e melhor definição com resoluções não nativas, pode-se considerar o CRT como obsoleto.

Eu detestava ler no computador, e tinha um monitor até que razoável, um Samsung CRT de 17 polegadas. Quando mudei para um Samsung LCD de 19 polegadas, senti a diferença absurda, e não apenas por ser uma tela maior. Cores mais vivas, fontes mais legíveis e, claro, uma área de trabalho “wide” (retangular) com muito mais espaço. Ler no computador passou a ser muito mais confortável. Se você está lendo esse texto num CRT, realmente recomendo que troque por um LCD quando possível.

Entretanto, não estendo esses comentários às televisões CRT. Ainda mantenho a minha, pois a maioria da programação ainda é transmitida em SD (shitty standard definition), e fica um tanto distorcida em TVs LCD.

Cabo IDE
Cabo IDE flat e seu substituto, o cabo Serial ATA.

Essa é para quem se aventura a fazer manutenção de computador e/ou remover e instalar HDs e outros dispositivos, mas principalmente para quem tem que organizar cabos dentro de um computador. Pela foto já dá pra ter uma ideia.

Cabo RCA A/V e vídeo-componente
Cabo de áudio e vídeo RCA (esq.) e cabo HDMI (dir.), 
que serve como áudio e vídeo num único conector.

Levar um aparelho de um lugar a outro da casa é um saco, e boa parte disso está relacionado a ligar esses cabinhos coloridos no aparelho em questão e na entrada da TV. Entradas frontais poupam o trabalho de se esgueirar atrás da estante, mas não são uma boa solução estética. E a diversão só aumenta no caso do vídeo-componente, que tem três cabos só para o vídeo, além dos dois do áudio. Por isso, afirmo: HDMI é fucking awesome coisinha linda de Deus.

Disquete de 3 ½”
Puta que pariu, nem preciso falar disso, né?

Celular monocromático
Com um visor que lembra um relógio digital incrementado, cores escrotas e toques monofônicos insuportáveis, não dá pra lembrar desses celulares com afeto. Cheguei a usar um celular com bateria de níquel, que tinha o famoso “efeito memória”, em que a bateria tem sua capacidade total diminuída se não for completamente esvaziada e completamente carregada. Totalmente inconveniente em comparação às atuais de lítio, que se pode carregar quando e o quanto quiser praticamente sem problemas.



Processador single core


Ainda lembro da minha reação na primeira vez em que vi um processador dual core desempenhando algumas tarefas em aplicativos diversos em ambiente Windows. Foi algo como: “Caráleo puta que pariu, que baguio rápido da porra, véi!”, ou algo quase tão espontâneo. E já há processadores com mais de dois núcleos.

Qualquer tarefa ou comando fica muito mais rápido, não há a sobrecarga de instruções como nos processadores antigos, em que tudo era trabalhado por um único núcleo. Numa analogia leiga, é como se o computador tivesse mais de um cérebro.

Nada de clicar para abrir um programa e levantar pra pegar um café enquanto espera. Nunca mais quero ver um processador single core na minha frente. Se você usa um processador single core, sinto muito, sua vida é uma merda.

Eu ainda poderia falar outras tranqueiras, como câmera fotográfica de filme e sem flash embutido, mas não cheguei realmente a usar uma dessas (embora meu pai tivesse uma, mas era ele quem usava). E também não poderia falar sobre carburação e injeção eletrônica, já que meu carro é de 1988, carburado (mas aprovado na inspeção veicular do município de São Paulo).

Creio que essa lista seja suficiente para ilustrar minha experiência com a rápida mudança dos tipos de bugigangas que nos rodeiam.

Para finalizar, vou ali assistir um bluray no meu Playstation 3 e meu monitor/TV LCD usando cabo HDMI, enquanto baixo MP3 por torrent a 500KBps no meu PC com processador dual core. Ou algo assim.

6 de junho de 2010

O princípio da cueca azul

No meio acadêmico, e em meio a acaloradas discussões, desenvolvemos semanalmente um grupo de estudos cujo tema principal chamamos de “socialização etílica contemporânea”. Como sou considerado monitor dessa disciplina, eventualmente devo apresentar seminários sobre novas construções teóricas que fundamentem outros trabalhos, jornadas, congressos e ciclos de debates.

Nosso grupo é formado por integrantes de diferentes formações teóricas e epistemológicas. Temos junguianos, frankfurtianos, marxistas chatos ortodoxos, marxistas heterodoxos, ex-lacanianos e o que mais a orientadora for capaz de suportar. Entre os materialistas, que não veem de forma tranquila a relativização de perspectivas e banalização da racionalidade, a questão da coerência é algo primordial.

Pautando-me por essa questão, elaborei um princípio de coerência que chamei de “Princípio da Cueca Azul Clara” ou, como ficou mais vulgarmente conhecido entre nós, simplesmente “Princípio da Cueca Azul”.

Premissa fundamental: Azul claro é a cor mais ridícula de cueca.

Esta premissa ainda não foi derrubada em discussões ulteriores à elaboração da teoria. Basta mencionar as palavras “cueca azul clara” que surge uma expressão de nojo e/ou desdém no rosto do interlocutor. Caso fosse contrariada, faria ruir o restante da elaboração. Esta afirmação é, portanto, axiomática.

Partindo da premissa fundamental, temos uma proposição com dois desfechos hipotéticos:

Proposição: O cara sai de casa com plena e total convicção de que não vai pegar ninguém. Sabe que não vai rolar nada, e que a chance de tirar as calças diante de um(a) possível parceiro(a) sexual é zero. Depois de tomar banho, deve escolher uma roupa para sair, começando, claro, pela cueca.

Desfecho 1: Escolhe uma cueca preta ou branca, nova ou em boas condições.

No Desfecho 1, nota-se que a solução é incoerente com a proposição. Por esperança ou alguma razão tão idiota quanto, a ação que caracteriza o desfecho não está de acordo com a situação. Se não vai pegar ninguém, por que sair com uma cueca boa? O Desfecho 1 sugere que a ação tem como objetivo uma consequência oposta à declaração que constitui a proposição. No caso, se dar bem.

Desfecho 2: Sai de cueca azul clara, de preferência furada e com o elástico frouxo.

No Desfecho 2, entretanto, a solução é coerente. Se não vai pegar ninguém, e sabe disso, não há razão para usar uma cueca boa. A cueca não será vista por ninguém, salvo em caso de acidente grave. O Desfecho 2 caracteriza uma ação que condiz com a proposição.

Portanto, dada a proposição, o Desfecho 2 é o único que preza pela coerência.

Poder-se-ia desferir diversos ataques a esta teoria, pela incursão de elementos adicionais ao exemplo hipotético usado em sua demonstração. Por exemplo, diriam que homem não escolhe roupa, pega a primeira que encontra, e neste caso ele simplesmente teria pegado a cueca que está no topo da gaveta. Ou então que se o cara é coerente mesmo, ele sempre vai querer pegar alguém, portanto não teria razão para sair com uma cueca zoada.

Qualquer ataque desse tipo seria na verdade uma tentativa de distorcer a situação do exemplo citado, e não de refutar a lógica inerente às suas proposições. Considerando como verdadeira a situação apresentada, suas decorrências são meramente lógicas, e é sua coerência interna que deve ser observada.

Decorre desta elaboração novas aquisições ao nosso léxico e o emprego de certas expressões novas em nosso cotidiano, como “faltou cueca azul aí”, no caso de uma incoerência, ou “esse cara é cueca azul”, referindo-se a uma pessoa coerente – que não necessariamente precisa usar realmente cuecas azuis.

Mas isso tudo é lógica formal. Nem me venha falar em “dialética da cueca azul”...

24 de maio de 2010

Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte I

Com o desenvolvimento de tecnologias de comunicação, estamos conectados em rede praticamente todo o tempo. Podemos contatar e ser contatados facilmente em celulares, correios eletrônicos e redes sociais.

Entretanto, é nessa constante possibilidade de presença que a ausência se faz ainda mais esmagadora. A solidão virtual, ou a forma como experienciamos a solidão no século 21, já não impõe limites, já não se nos apresenta como o peso de uma ausência física, mas como a volatilidade de uma constante presença imaterial. Quantos de nós, sempre plugados, não sentem, por isso mesmo, a irrealidade e inconstância do mundo que nos cerca?

Dispomos atualmente de ferramentas para nos expressar, de forma mais livre, e o alcance de nossa expressão é muito amplo. Por outro lado, a hipertrofia da expressão também leva ao mínimo da comunicação entre pessoas. Escreve-se mais, lê-se menos. A informação é muita, e fragmentada. Vem em drops, pílulas, pseudossínteses que ocultam a real expressão das pessoas e das relações entre elas. Vemos vídeos de até dois minutos, lemos notícias de até cinco parágrafos e poemas de até quatorze versos, pois não temos muito tempo a perder.

E mesmo em tempos de excesso de informação e meios de comunicação imediata – que deveriam representar a hegemonia da palavra –, vivemos cada vez mais como sujeitos neuroquímicos. Basta notar o uso – por necessidades geralmente fabricadas – de remédios para dormir, ficar acordado, ter apetite, tirar o apetite, pensar mais, pensar menos, calmantes, estimulantes, paudurantes e tantos outros.

Queremos romper a barreira do humano?

Tirinha: André Dahmer (www.malvados.com.br)

19 de maio de 2010

O que é ser psicólogo?

(Encontrei este texto, escrito no meu último ano de faculdade, e me surpreendi ao relê-lo.)

Prefiro começar esta reflexão pela sua negativa. O que é não ser psicólogo? Costumo pensar que nossa prática sempre corre o perigo de tornar-se um dispositivo de controle de uma sociedade disciplinar. Muitas vezes a prática apresenta-se legitimamente como dispositivo de coerção e adaptação do ser humano a normas sociais estabelecidas, isso mina todas as possibilidades de emancipação e autonomia dos sujeitos como construtores de sua própria história e da história da coletividade. Não ser psicólogo é contribuir na manutenção de relações de poder instituídas, é reproduzir valores pequeno-burgueses de família, propriedade privada, (ausência de) direitos das minorias, valores sobre a sexualidade, etc. Não ser psicólogo é admitir que, por ter um diploma e algum conhecimento teórico, sabe mais sobre o outro do que ele mesmo jamais poderia saber. Não ser psicólogo é sentir-se em pleno direito de conduzir alguém por caminhos que ele não escolheu.

Não ser psicólogo também é sentir-se plenamente psicólogo, completo, sentir que não há mais nada para aprender, que o conhecimento e o tal “olhar psi” sobre o mundo nos coloca num lugar de superioridade, de quem detém a verdade sobre o mundo e sobre o ser humano. Não ser psicólogo é querer ser psicólogo o tempo todo, “psicologizando” nossas próprias relações e qualquer manifestação da subjetividade alheia. Não ser psicólogo é reduzir a arte à psicologia, a literatura à psicologia, a psicanálise à psicologia, a filosofia à psicologia, o churrasco à psicologia, e perder o que há de propriamente humano (fora do âmbito do “psicologizável”) na vida.

Para ser psicólogo é preciso, acima e antes de qualquer coisa, ser humano. É preciso ser capaz de sentir, de chorar, de se emocionar, é preciso sofrer. Sofrer, mas saber sofrer. É preciso saber que o sofrimento do outro não é meu, e nem “como se” fosse, mas é somente do outro. E o sofrimento é legítimo justamente por ser do outro. O sofrimento alheio pode causar em nós outros sentimentos, que só são possíveis por estarmos em relação. Muitas vezes nos esquecemos o que é estar em relação, e esquecemos “como” estar em relação. Aí entra a questão da técnica.

Mas como pensar na técnica se podemos não saber o que fazer? Ser psicólogo é, depois de ser humano, ter clareza da posição ético-política que ocupamos no mundo, em nossas relações pessoais e profissionais. Se tivermos clareza de nossos objetivos, de nossos horizontes, da direção a seguir, descobriremos e inventaremos maneiras de estabelecer e manejar as relações. Só depois da clareza da posição ético-política entra a questão da técnica. A técnica pela técnica, sem prestar-se a um objetivo, pode ser perigosa. É assim que muitos de nós caem nas armadilhas que tentamos evitar.

Uma pergunta que sempre deve ecoar em todos os nossos sentidos é “para quê?”. Para que serve minha prática? A que e a quem minha atuação profissional está submetida? Que tipo de relações estabeleço quando atuo profissionalmente? As relações que estabeleço baseiam-se nas minhas carências e angústias ou na direção de minha posição ética e política? Sou levado a pensar se quando reclamamos da insuficiência de modelos teóricos, na verdade nos queixamos da falta de clareza de quem somos, de nossa posição no mundo, da direção da nossa construção. Nos queixamos por não termos definido onde queremos chegar, qual nosso horizonte, o que queremos quando pensamos em atuar efetivamente como psicólogos. Não sabemos como realizar análises, como refletir sobre a realidade, como buscar saídas, como conceber intervenções. Sentimo-nos inseguros, atribuímos nossa insegurança a algo externo, a falta de teorias, sem darmo-nos conta de que não temos objetivos, e nossos objetivos não estão somente nos livros.

Recentemente pude presenciar uma cerimônia de colação de grau que incluía alunos de psicologia. A oração dizia “...que esses profissionais levem alegria aonde houver tristeza, paz onde houver discórdia...” e fiquei me perguntando se um psicólogo deve fazer isso mesmo. Devemos aniquilar conflitos e angústias ou trata-se de nosso conteúdo de trabalho, e somente a partir da angústia e do conflito podemos pensar em intervir como psicólogos? Há sentido em levar alegria e paz, nossa alegria e nossa paz, e esmagar o sofrimento alheio? Nossa oferta é a felicidade? Se for, qual o custo da felicidade? Chega-se à felicidade sem sofrimento?

Outra preocupação que deve nos acompanhar é a necessidade que temos de sermos amados. Precisamos ser bem recebidos e bem tratados em todos os espaços, sob o risco de não suportarmos nossa própria incapacidade de manejar situações de conflito. Qual a direção de nossa intervenção? Essa pergunta me arrisco a responder: tornar-nos desnecessários. A direção de nosso trabalho é promover e desenvolver a possibilidade de não mais sermos necessários, a possibilidade que cada um pode ter de cuidar de si mesmo. No trabalho institucional e de grupos, a direção é a mesma, promover processos de auto-gestão e auto-análise, ou seja, saber e agir sobre si próprios. Como fazer isso sem evidenciar conflitos, sem fazer emergir contradições e forças instituintes? Se mantivermos a paz e a felicidade, estaremos apenas mantendo relações de preenchimento de nossas próprias carências? Voltando ao início da reflexão, não seria esta uma forma de construir uma prática como dispositivo da sociedade disciplinar?

15 de maio de 2010

Oficina do sonhar II

Horas passam, olhos fitando o teto
Absorto em pensamentos divagantes
E em fantasias quase delirantes
Pairando inutilmente tal inseto

Aprisionado em meus próprios castelos
Edificados sem seus alicerces
Nos vãos por sobre as ilusões inertes
Em vão abrigam sonhos mais singelos

Procuro ferramentas no impossível
Há sonhos e ilusões em meu canteiro
Em abstrações, encontro meu concreto

Mas meu projeto é ilógico e falível
Desaba sobre mim meu cativeiro
Grande sonhador, péssimo arquiteto

(24/02/2009)

4 de maio de 2010

Declaração

Você veio. Seus olhos buscavam os meus, os almejavam, os devoravam. Detinham-se neles por mais tempo que o necessário, mais que o recomendável para o tipo de distância que queríamos manter. Você perguntou de mim, dos meus planos, dos meus amores, da minha vida. O tipo de pergunta que não se faria para alguém de quem se quer manter uma distância segura. Você tinha que ir embora, mas não ia. Demorava-se em longos abraços, os olhos novamente buscando os meus, um certo olhar, um certo sorriso. Um gemido de conforto, outro abraço demorado. O portão aberto, os braços abertos, os braços fechados nos envolvendo. Cansou e foi embora. Fiquei ao portão, os olhos buscando os seus.

26 de abril de 2010

Lacaniano

Escrito quando fui lacaniano, num tempo remoto, em resposta à pergunta: "Os lacanianos são humanos?"


Respondo a vil pergunta que me fazes
Lacônico no uso da linguagem
Se furto-me de artigos e pronomes
Já não encontro a graça que me trazes

Se sabes da tragédia do que dizes
E pensas da comédia que é bobagem
Palavras nunca ditas já disformes
Nas bocas de pessoas infelizes

O que haverá então de desumano
Nos mau-entendedores das palavras
Desnecessários, vis lacanianos?

Será profano o significante
Se em vez de proferido então se trava
E perde-se em respostas vacilantes?

(15/04/06)

24 de abril de 2010

Alma fria

Matei a minha sensibilidade
Ou ela está somente adormecida
Não vejo mais o breu da minha vida
Perdido ali num prédio da cidade

Dentro de mim a alma morta e fria
Não dói como doía antigamente
Enrijecido, o coração não sente
Não é tocado nem por poesia

Saudade das lamúrias de outrora
Agora já não sei como me sinto
Depois que o sofrimento foi embora

Idílico e cruel, porém intenso
Se dele não preciso é porque minto
Eu não mais sinto, mas ainda penso

(19/04/06)

22 de abril de 2010

Soneto urbano

Vivemos na cidade que acontece
Em rastros, faróis brancos e vermelhos
Velozes, motoboys levam espelhos
O que hoje choca, amanhã se esquece

Por entre nós, satélites se falam
A rua para alguns também é casa
Sob finos paletós, peles em brasa
No muro o grito surdo dos que calam

É pau, é pedra, é pó, é cola, é crack
É tudo um grande show, aplaude a claque
O sangue lava a chuva da calçada

Crianças, travestis e prostitutas
A mesma fome e dor, as mesmas lutas
Milhões de estranhos sob o mesmo nada

(24/01/2010)