29 de dezembro de 2010
Profana dança
Atuo sempre desorientado
Se tento é sempre intento fracassado
Desgarro, agarro, amarro e então pereço
Profano, danço até que hesito exausto
Espelho expresso rápido indeciso
Duvido olhar calado peito inciso
Afago, ofego e me redimo infausto
Em minha pele cada poro sua
Mentira que transpira, inspira e clama
Derrama sobre sua pele nua
A mesma farsa em dois subtraída
Sentida só depois que a fria chama
Apaga e chama à vida desmentida
25 de dezembro de 2010
21 de dezembro de 2010
Comunicador
Encontro musical, mas dissonante.
Harmônico talvez, quiçá embriagante,
Ainda que a ressaca se anuncie.
Súbito regozijo.
Mas ele se enfastiou
Com o júbilo ilusório
Que se anunciava.
15 de dezembro de 2010
10 de dezembro de 2010
Poeta musical
O músico, poeta almeja ser
Nos versos sempre oculta o bestial
Sublime melodia há de tecer
Contradição eterna, pois humana
Em jogo de esconder, que é tão banal
Nos versos a pureza sempre emana
E encobre desta forma todo o mal
Artista sofredor que nunca nota
Que a música, impossível, sempre veta
O sentimento expresso em cada nota
Angústia do poeta em doce tom
Um homem animal, feito poeta
Um animal humano feito som
(24/01/06)
26 de novembro de 2010
Simbonírica 4
24 de novembro de 2010
Borgiana
Mas por um cochilo distraído
Fui eu quem surgiu
E ela já acordou
18 de novembro de 2010
Jogo da memória
29 de outubro de 2010
Simbonírica 3
27 de outubro de 2010
Nanotecnologia
Ínfimo infinito
Túneis óticos
Pensamento
Pensalento
Nanonós
Não somos?
(29/05/06)
19 de outubro de 2010
Quintal
13 de outubro de 2010
Caralivro (Facebook)
tentando me ofender,
proferiu um dos melhores
elogios que já recebi.
Disse a guria:
Você é muito chato,
parece um livro!
6 de outubro de 2010
Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte III
28 de setembro de 2010
Lágrimas que não são infelizes
Momento esvaecido numa brisa.
Seu rosto tua mão já não alisa,
Num verbo em particípio conjugado.
Se nunca é sina, sempre breve história,
Se na memória é mártir, porém vive,
É quando a hesitação em ti incide,
Que se faz mestre o tolo de outrora.
Será que tu percebes a ironia?
Se foste do poeta a escolhida,
Por que não abraçaste a alegria?
Mas não é nada disso o que lhe dizes.
As lágrimas que choram a partida
Não são, por derramadas, infelizes.
(07/03/2007)
27 de agosto de 2010
Simbonírica 2
No ápice do arco, a ascensão é alterada. Aliteração. Cada canalha em cadeira cativa o vê cair em câmera lenta. Catástrofe.
Em vultos, vê surgir a rede quadriculada que o ampara. Impacto. O mundo balança e para. Ninguém o espera. Está perdido. A vida passa rápido demais.
Quem chupa o homem-bala?
19 de agosto de 2010
Simbonírica 1
15 de julho de 2010
Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte II
6 de julho de 2010
Homem bonito
12 de junho de 2010
Soneto do 12 de junho
Não falo da embalagem tão somente
Mas muito além do jeito assim contente
Que negas que é de ti pra meu espanto
Mulher madura, jeito de menina
Menina moça, jeito de mulher
Oculta teu desejo e me alucina
E faz com meu desejo o que quiser
Perante teu olhar, que é tão profundo
Perco-me e penso estar já naufragado
Meu pobre coração, que é vagabundo
Quer ser pelo teu peito acalantado
E no teu ser o meu olhar fecundo
Despe-te, como quem dá-se ao pecado
(12/06/05)
11 de junho de 2010
Tecnostalgia coisa nenhuma!
que serve como áudio e vídeo num único conector.
Processador single core
6 de junho de 2010
O princípio da cueca azul
24 de maio de 2010
Notas sobre a sociabilidade contemporânea - Parte I
Queremos romper a barreira do humano?
19 de maio de 2010
O que é ser psicólogo?
Prefiro começar esta reflexão pela sua negativa. O que é não ser psicólogo? Costumo pensar que nossa prática sempre corre o perigo de tornar-se um dispositivo de controle de uma sociedade disciplinar. Muitas vezes a prática apresenta-se legitimamente como dispositivo de coerção e adaptação do ser humano a normas sociais estabelecidas, isso mina todas as possibilidades de emancipação e autonomia dos sujeitos como construtores de sua própria história e da história da coletividade. Não ser psicólogo é contribuir na manutenção de relações de poder instituídas, é reproduzir valores pequeno-burgueses de família, propriedade privada, (ausência de) direitos das minorias, valores sobre a sexualidade, etc. Não ser psicólogo é admitir que, por ter um diploma e algum conhecimento teórico, sabe mais sobre o outro do que ele mesmo jamais poderia saber. Não ser psicólogo é sentir-se em pleno direito de conduzir alguém por caminhos que ele não escolheu.
Não ser psicólogo também é sentir-se plenamente psicólogo, completo, sentir que não há mais nada para aprender, que o conhecimento e o tal “olhar psi” sobre o mundo nos coloca num lugar de superioridade, de quem detém a verdade sobre o mundo e sobre o ser humano. Não ser psicólogo é querer ser psicólogo o tempo todo, “psicologizando” nossas próprias relações e qualquer manifestação da subjetividade alheia. Não ser psicólogo é reduzir a arte à psicologia, a literatura à psicologia, a psicanálise à psicologia, a filosofia à psicologia, o churrasco à psicologia, e perder o que há de propriamente humano (fora do âmbito do “psicologizável”) na vida.
Para ser psicólogo é preciso, acima e antes de qualquer coisa, ser humano. É preciso ser capaz de sentir, de chorar, de se emocionar, é preciso sofrer. Sofrer, mas saber sofrer. É preciso saber que o sofrimento do outro não é meu, e nem “como se” fosse, mas é somente do outro. E o sofrimento é legítimo justamente por ser do outro. O sofrimento alheio pode causar em nós outros sentimentos, que só são possíveis por estarmos em relação. Muitas vezes nos esquecemos o que é estar em relação, e esquecemos “como” estar em relação. Aí entra a questão da técnica.
Mas como pensar na técnica se podemos não saber o que fazer? Ser psicólogo é, depois de ser humano, ter clareza da posição ético-política que ocupamos no mundo, em nossas relações pessoais e profissionais. Se tivermos clareza de nossos objetivos, de nossos horizontes, da direção a seguir, descobriremos e inventaremos maneiras de estabelecer e manejar as relações. Só depois da clareza da posição ético-política entra a questão da técnica. A técnica pela técnica, sem prestar-se a um objetivo, pode ser perigosa. É assim que muitos de nós caem nas armadilhas que tentamos evitar.
Uma pergunta que sempre deve ecoar em todos os nossos sentidos é “para quê?”. Para que serve minha prática? A que e a quem minha atuação profissional está submetida? Que tipo de relações estabeleço quando atuo profissionalmente? As relações que estabeleço baseiam-se nas minhas carências e angústias ou na direção de minha posição ética e política? Sou levado a pensar se quando reclamamos da insuficiência de modelos teóricos, na verdade nos queixamos da falta de clareza de quem somos, de nossa posição no mundo, da direção da nossa construção. Nos queixamos por não termos definido onde queremos chegar, qual nosso horizonte, o que queremos quando pensamos em atuar efetivamente como psicólogos. Não sabemos como realizar análises, como refletir sobre a realidade, como buscar saídas, como conceber intervenções. Sentimo-nos inseguros, atribuímos nossa insegurança a algo externo, a falta de teorias, sem darmo-nos conta de que não temos objetivos, e nossos objetivos não estão somente nos livros.
Recentemente pude presenciar uma cerimônia de colação de grau que incluía alunos de psicologia. A oração dizia “...que esses profissionais levem alegria aonde houver tristeza, paz onde houver discórdia...” e fiquei me perguntando se um psicólogo deve fazer isso mesmo. Devemos aniquilar conflitos e angústias ou trata-se de nosso conteúdo de trabalho, e somente a partir da angústia e do conflito podemos pensar em intervir como psicólogos? Há sentido em levar alegria e paz, nossa alegria e nossa paz, e esmagar o sofrimento alheio? Nossa oferta é a felicidade? Se for, qual o custo da felicidade? Chega-se à felicidade sem sofrimento?
Outra preocupação que deve nos acompanhar é a necessidade que temos de sermos amados. Precisamos ser bem recebidos e bem tratados em todos os espaços, sob o risco de não suportarmos nossa própria incapacidade de manejar situações de conflito. Qual a direção de nossa intervenção? Essa pergunta me arrisco a responder: tornar-nos desnecessários. A direção de nosso trabalho é promover e desenvolver a possibilidade de não mais sermos necessários, a possibilidade que cada um pode ter de cuidar de si mesmo. No trabalho institucional e de grupos, a direção é a mesma, promover processos de auto-gestão e auto-análise, ou seja, saber e agir sobre si próprios. Como fazer isso sem evidenciar conflitos, sem fazer emergir contradições e forças instituintes? Se mantivermos a paz e a felicidade, estaremos apenas mantendo relações de preenchimento de nossas próprias carências? Voltando ao início da reflexão, não seria esta uma forma de construir uma prática como dispositivo da sociedade disciplinar?